Talento da nova música brasileira, Verônica Ferriani acaba de lançar seu terceiro álbum, Aquário, nesta sexta (14). Produzido por Diogo Strausz e co-produzido pela própria artista, você vê em primeira mão no Virgula a animação de Bússola, uma das faixas inéditas do trabalho.
Leia nossa conversa com a artista de Ribeirão Preto, de 40 anos, em que ela fala sobre o disco, referências, música atual, entre outros assuntos:
Qual é o conceito do disco? Ele apareceu no caminho ou desde o começo você sabia exatamente o que queria?
Verônica – Aquário chegou enquanto eu pensava sobre nossa falta de controle sobre as coisas, sobre tudo aquilo que nos é incompreensível, sobre como a vida em sociedade nos entretêm e ajuda nossa consciência a digerir ou conviver com o desconhecido. Disso pintaram assuntos sobre como nos identificamos e/ou dividimos em grupo, sobre nossa necessidade de pertencimento, e naturalmente sobre as simultaneidades e diferenças naturais.
É sempre um processo, contínuo elaborando aqui ideias menos claras sobre diversos assuntos. Mas, é um disco essencialmente sobre o coletivo, sobre o outro, tendo como pano de fundo a cidade, espaço onde se dá essa convivência de fés e formas de viver. Eu vinha de um disco altamente confessional, quase todo em primeira pessoa – Porque a Boca Fala Aquilo do Que o Coração Tá Cheio, minha estreia como compositora. E gosto que cada trabalho novo pinte com identidade e descobertas próprias.
O que está rolando de mais interessante na música hoje na sua opinião?
Verônica – É tanta coisa interessante que não ando dando conta (risos). Embora sempre existam aqueles tipos de música mais populares, mais à vista de todos, são tantos guetos ganhando voz e elegendo representantes na música e em outras formas de arte que eu fico admirada.
Sigo amando Ella Fitzgerald e Nana Caymmi, mas ouço quase um disco novo por dia. Esta semana, ouvi o último do Gil, o novo da Josyara e do Quartabê, reouvi Letrux e Xênia França – que lançou uma música minha regravada no Aquário (Nave) -, reouvi Wilson Moreira, de meus sambistas preferidos, recém-falecido.
Que característica crê que seja mais marcante na sua geração?
Verônica – A diversidade de referências e a mistura de gêneros. Mesmo assim, sinto na geração sonoridades próprias e acho isso incrível.
Quais são suas referências estéticas?
Verônica – As primeiras referências estéticas surgiram de uma pesquisa sobre o realismo fantástico de Mike Dempsey, Denis Darzacq e Yvo Mayr, entre outros, passando pelo clima psicológico das mulheres de Francesca Woodman. Queríamos que a compreensão do improvável ou do impossível não fosse imediata, trabalhando com certa sutileza e dubiedade com o desafio de gravidade. E, também que passado e futuro coexistissem, também sem muitas referências geográficas.
Quais são seus valores essenciais?
Verônica – Liberdade à criação. Respeito à diferença. Esforço de diálogo. Calma perante o incompreensível. Pessoalmente, os processos têm sido meu objetivo maior. Como vou passar pela construção de um trabalho tem super a ver com minha própria construção pessoal. E o que vou extrair dali pra minha compreensão de mundo é o que me move.