Catarine Brum Carlinhos Brown e Elem Silva
Era para ser apenas uma visita a Salvador, mas ao pisar em solo baiano, a cineasta afroamericana Falani Afrika se deparou com a história emocionante de uma garota do lendário bairro da Rocinha, no Pelourinho. Elem movia mundos para se tornar uma das poucas maestrinas de banda de tambores. “Maestrina da Favela” revela a força extraordinária de Elem Silva que, desde pequena, esbanja liderança e determinação naquele que foi considerado um dos últimos locais em processo de gentrificação do centro histórico.
“Quando a vi aos 13 anos de idade, fiquei totalmente impressionada. Ver uma jovem que combate a violência e o racismo através da música foi muito inspirador e foi o que me estimulou a criar o documentário”, afirma a diretora.
O filme não teve apoio de grandes instituições. Falani conseguiu o dinheiro para filmar a partir da comunidade negra de Washington, nos Estados Unidos, da família e de uma rede de amigos. Além disso, Falani vendeu “fish fries” (peixe frito), com sua mãe, uma tradição da comunidade negra norte-americana para levantar fundos. “Nos últimos três anos, trabalhei com um coletivo de cineastas de mulheres negras que investiram seu próprio dinheiro, habilidades e equipamentos para tornar o filme mais profissional. Há cerca de seis meses, fui ao Blackstar Film Festival na Filadélfia, Pensilvânia, e uma linda senhora – Dra. Derby – patrocinou a pós-produção. Nunca tive orçamento para trabalhar com o filme, mas os fundos chegaram pouco a pouco”, diz a cineasta.
Divulgação Maestrina da Favela
A produção do filme é realizada por mulheres negras e engajadas e com equipe majoritariamente feminina. “Maestrina da Favela” conta com a participação de músicos como Carlinhos Brown, da percussionista Viviam Caroline, diretora da Banda Didá e da mestra Andreia Reis, do Olodum. As músicas do filme foram gentilmente cedidas pela banda Meninos da Rocinha do Pelô, pela cantora Luedji Luna e por Seun Kuti, filho de Fela Kuti.
Elisete “Elem” de Jesus da Silva criou a banda Meninos da Rocinha do Pelô para retirar crianças das ruas do Pelourinho. Nesses 15 anos, ela perdeu a mãe, alguns membros da banda, mas nunca perdeu o sonho de se tornar uma maestrina. No filme, Elem conta sobre sua realidade de maneira autônoma e extremamente engajada. Sua capacidade de se expressar é tão poderosa quanto sua forma de liderar uma banda e cuidar dos seus “alunos”.
“Comecei tocar com 7 anos e com ajuda dos turistas, consegui juntar dinheiro para comprar os instrumentos, com a ajuda também da minha saudosa mãe, Nilzete Silva. Poucos meses antes da minha mãe falecer, ela comprou a maioria dos nossos atuais instrumentos. Os demais foram com a ajuda do projeto Global Music, dos Estados Unidos, e ajuda da Falani”, diz Elem.
Elem é um desses personagens que resistem e é emocionante acompanhar seu crescimento na tela nos 10 anos em que estabelece uma relação de confiança e amizade com a cineastra afroamericana Falani Afrika. Com um problema de saúde diagnosticado, Elem já sofreu três AVCs (acidente vascular), mas sem nunca paralisar suas atividades. A maestrina tem a capacidade de emocionar e demonstrar que a vida merece ser vivida em toda a sua intensidade, na perseguição dos sonhos mais genuínos. “Esse documentário tem trazido oportunidade pra mim e os meninos. Minha mãe passou esses valores pra gente, lutar sempre e não desistir nunca. Esse é o nosso lema de vida. E ser honesta com as crianças. Passo sempre pra eles que não sou melhor que eles em nada, sou apenas a professora deles e também aprendo com eles. É troca de aprendizado. Por isso temos uma união muito forte”, conclui a maestrina.
“Maestrina da Favela”, da diretora afroamericana Falani Afrika, traz cenas emocionantes em dez anos de registros cinematográficos do universo musical e realidade social de Salvador, a partir da vida da percussionista e maestrina Elem Silva. Filme tem pré-estreia no dia 24 de fevereiro, 17 h, na Sala Walter da Silveira, nos Barris. Mais sobre o filme aqui: www.maestrinadafavela.com
