The Afghan Whigs
Os Afghan Whigs sempre foram especiais na cena alternativa americana dos 90. Gravavam pela Sub Pop mas não eram grunges, nem de Seattle. Eram limpos, de cabelo curto e usavam roupas de grife. Mais: tinham um som complicado, com guitarras e baixo fazendo o improvável e a bateria, o impossível. Eles eram bons.
Tudo isso e outras coisas (a mulherada pagava pau para o vocalista Greg Dulli) catapultaram a banda de Ohio a status de cult. Por isso, corações partiram quando eles se separaram em 2001, sem nunca terem feito um show no Brasil. Por isso, houve alvorço quando anunciaram a volta em 2012. Por isso havia tamanha expectatica entre os que enfrentaram chuva e caos urbano de São Paulo para vê-los na Áudio, mais ou menos lotada (mais para mais), na noite de ontem.
O Greg deve ter chegado na casa da shows da Barra Funda, visto tudo aquilo e pensado; “ Hmmm. Teto baixo…acústica boa…. acho que vou dar um detonada”. E deu. Capitaneando outros dois guitarras, mais baixo, bateria, teclado e violino, abriu com músicas do disco novo, em meio a uma (Fountain and Fairfax) de um disco clássico (Gentlemen), até chegar no megahit Debonair, onde todo o povo fez bonito, cantando em uníssono.
O povo ainda cantou alto em Turn on the Water, Uptown Again e Gentleman, acompanhando Dulli, e em Going to Town, sozinho, quando o vocalista abriu mão de cantar e colocou a mão na orelha, incitando o coro. Na multidão, havia gente com sorriso de orelha a orelha. E lágrimas. Havia isso também.
Um dos pontos altos nos show da banda sempre foram os covers; de New Order, Prince, Clash. O de ontém manteve o nível: Modern Love, do Tin Machine, de David Bowie.
Já durante o bis, os mais exaltados clamavam por Milez is dead, cujo o refrão “Don´t Forget the Alcochol“, prometia chacoalhar as fundações. Mas Greg não entregou álcool nenhum e se despediu da galera com Faded.
Um fim honesto, justo, mas não bombástico. Talvez este tenha sido o único porém da noite. Mas nada que tenha impedido a galera de voltar para a casa com os ouvidos zunindo de felicidade.
Ir a um show de uma banda que voltou a existir é sempre um grande risco para um fã. Os fãs dos Whigs tiveram sorte, porque esperaram vinte anos e os caras ainda são bons praca. Aliás, absurdamente bons. O que é, no fim, o real motivo pelo qual sempre foram especiais.