Muito antes da onda sonora de Boogarins, O Terno, The Outs e até do mestre Júpiter Maçã chapar a cabeça da galera, o Brasil já produzia e vivia intensamente a música psicodélica, isso lá em meados dos anos sessenta e setenta. Os Mutantes, Gal Costa, Tom Zé, Caetano Veloso, O Terço, Ronnie Von e muitos outros artistas – incluindo alguns menos populares na época – abriram a mente do público com discos maravilhosos, que agora estão listados em Lindo Sonho Delirante: 100 Discos Psicodélicos do Brasil (1968-1975), belíssimo livro de Bento Araujo.
Bento, que editou o fanzine independente Poeira Zine por mais de uma década, se dedicou anos para produzir o livro. Foram pesquisas e muitas audições para chegar ao número cem. “A minha paixão pela música psicodélica vem desde a época em que trabalhei na loja de discos Nuvem Nove, em São Paulo. Já a ideia de produzir do livro apareceu há algum tempo, e como estamos em um bom momento da música psicodélica no Brasil e no mundo, pensei que agora seria a hora ideal de lançá-lo”, conta o autor ao Virgula.
Realizado através de financiamento coletivo, Lindo Sonho Delirante foi lançado em modo bilíngue (português e inglês), com o objetivo de contemplar também o público estrangeiro, que é um grande incentivador da nossa música. “A demanda pela música brasileira psicodélica no exterior é até maior do que a daqui. Um bom exemplo são discos de bandas nacionais que são relançados primeiramente lá fora. É aquele negócio: a banda é redescoberta e estoura antes no exterior, e através do culto que rola é que a gente vai sacando as coisas incríveis que existem aqui. Mas isso é uma coisa que aconteceu até com os Mutantes, e não só com artistas mais obscuros”.
Mas porque os gringos piram tanto na música brasileira psicodélica? “Cada país tem o seu tipo de fazer a própria música. Acaba misturando ritmos regionais, e no Brasil foi a mesma coisa: a gente teve esse lance de assimilar o que veio de fora, da música inglesa e americana, e colocamos toda a nossa raiz nela, desde a Tropicália, e devolvemos como uma coisa nossa . A música psicodélica feita no Brasil é diferente das outras”, diz Bento, e complementa: “A nossa ainda tem todo o aquele tempero político e social da época”.
Para finalizar o papo, Bento se mostra feliz com o rumo que a música brasileira está tomando: “Tem muita garotada fazendo coisa boa por aí. Pô, fico super feliz que a música nacional psicodélica está de volta, e alcançando novas fronteiras, como o Boogarins, por exemplo, que está conquistando o mercado internacional. Tem o Anjo Gabriel também que eu gosto bastante. Eles são de Recife. Aliás, a cena nordestina, não só daquela época, mas a atual também, é sensacional”.
Veja alguns títulos que estão no livro: