Figura central da cena que levou o funk carioca ao mainstream, o DJ e produtor João Brasil lançou recentemente o EP #nuncamaiseuvoudormir, com quatro faixas, incluindo o hit instantâneo Michael Douglas.
Uma das faixas inéditas do EP é uma homenagem à musa crossfit Gabriela Pugliesi, “Hey Pugliesi, deixa eu comer maionese”, afirma a letra do músico que se apresentou e criou uma trilha para a abertura da Paralimpíada do Rio.
Já Peteca é Peteca, Mandioca é Mandioca, é dedicada ao público GLBT. “Uns brincam de frente, outros brincam de costas / Normal normal normal”, afirma a letra. Leia nossa conversa com o fera, que está em estúdio com Alice Caymmi, trabalhando na produção do terceiro disco do ícone da nova música brasileira. No papo, ele fala de tendências, elege possíveis popstars do pop brasileiro egressos do funk, entre outros assuntos.
O que tá acontecendo de mais novo na música brasileira hoje, na sua opinião?
João Brasil – A música eletrônica brasileira nunca esteve em um momento tão diverso e legal. Tenho ouvido muito as produções do Vintage Culture e do Cat Dealers. O funk também está passando por uma transformação incrível, em São Paulo, com as batidas minimalistas e timbres experimentais do Perera DJ e, no Rio, o Dennis fazendo o crossover de eletrônico com funk. E sem falar da Anitta, que mete uma bomba após outra, o funk pop nunca esteve tão incrível.
E na música mundial?
João – O mundo é muito grande (risos). Diplo sempre, com Major Lazer, Jack U ou sozinho. No rap, a melhor sonoridade para mim é a do Drake, ele está num momento muito especial, as produções estão incríveis. Tô curtindo muito os artistas do Owsla, selo musical do Skrillex. Indo para um caminho mais jazzístico e com banda, estou curtindo muito o som do Kamasi Washington.
Nos últimos anos, nós tivemos nomes como Anitta, Ludmilla, Valesca, MC Bin Laden, Nego do Borel, MC Carol e Naldo que vieram do funk e se tornaram ícones do novo pop brasileiro. Se tivesse que apostar em três MCs ainda desconhecidos do grande público com esse potencial pop, quem escolheria?
João – Livinho, Delano e o próprio MC Brinquedo podem ir muito além do funk, na minha opinião. O Livinho e o Delano cantam muito bem, eles poderiam experimentar com outras sonoridades, samplear coisas diferentes, tem um enorme buraco pop que eles podem preencher. O Brinquedo é uma figura, eu colocaria ele num playground musical, não é a toa que a Björk curtiu o som dele, ele pode ser um artista bem mais experimental, mas pop ao mesmo tempo.
E em relação aos produtores? Crê que a nova corrente no funk de beatmakers que vem usando elementos brasileiros como cavaquinho e percussão irá romper os limites do tamborzão e da rasteirinha?
João Brasil – Com certeza. Hoje, produtores com Omulu e Leo Justi estão dando uma outra cara para o funk. A nova do Omulu com o Delano já leva o funk para um outro lugar, o Leo é o metaleiro do funk, levando sempre o funk para o lugar mais pesado possível. Em termos de timbre de beats de funk, a periferia de São Paulo está dando um show, é criatividade sem limite.
Como define os temas das músicas, se preocupa com a necessidade de que trate de assuntos do cotidiano e da internet, ligados ao público que consome a sua música? Nesse disco tem uma música que fala da Gabriela Pugliese, por exemplo…
João Brasil – Eu gosto de me comunicar, tento entender o que está rolando ao meu redor, e me comunico dessa forma. Vivo boa parte da minha vida na noite e na internet, as músicas acabam saindo desse jeito. Minha maior preocupação é a alegria, se não tiver alegre, para mim não rola. Vibe é tudo para mim.