A Record vai apostar alto em ano de eleições. A emissora estreia no segundo semestre a série Planalto, que narra os bastidores da política nacional, com roteiro de Marcílio Moraes – autor de novelas como Irmãos Coragem (1995) e Roda de Fogo (1986).
A trama, influenciada pela série norte-americana House of Cards (na qual Kevin Spacey é um congressista que faz tudo pelo poder), mostrará o que acontece em Brasília, passando pelo papel da mídia e das redes sociais nos debates políticos brasileiros. Em entrevista exclusiva ao Virgula Diversão, Marcílio falou sobre a nova empreitada.
Confira:
Virgula Diversão: Já vimos temos políticos em novelas brasileiras, mas sempre em um tom mais jocoso, de sátira. Na sua opinião, os autores e as emissoras fogem da verissimilhança quando o assunto é política na ficção? Por quê?
Marcílio Moraes: De fato, não existem obras marcantes retratando políticos na TV brasileira. Em parte, isso se deve a muitos anos de censura, no regime ditatorial, o que inibia os autores. Também a vulnerabilidade das redes de TV ao poder do Estado, de que são apenas concessões, contribuiu muito para que as produções não se aventurassem nesse campo. Sempre foi mais fácil abordar o assunto em tom jocoso, satírico. Hoje, com a democracia consolidada, com o surgimento de concorrência na TV aberta, creio que o quadro pode mudar. A série que acabo de escrever, “Planalto”, é um indicativo.
V: Estamos em um momento em que a sociedade brasileira está mais discutindo mais política por causa das redes sociais. A série vai tratar disto também? De que forma?
MM: As tramas de “Planalto” se desenvolvem no mundo político e também no ambiente da mídia, tanto a tradicional como as chamadas redes sociais. Ambas interferem na política e são pelos políticos utilizadas. Mostro esse jogo, nem sempre muito transparente, entre os dois universos.
V: Como é o desafio de atrair a atenção do espectador com um tema denso como política?
MM: O espectador, tradicionalmente, desenvolveu uma certa antipatia pela política e pelos políticos. Mas no momento atual, a política está presente de tal forma que todo mundo se envolve com ela, de uma forma ou outra. A discussão política passou a fazer parte do cotidiano brasileiro como há muito não se via. Creio que este momento favorável vai contribuir muito para o sucesso da série. No que respeita à história que conto, utilizei os recursos tradicionais da dramaturgia. Crie tramas e personagens humanos, com que o espectador possa se identificar. Meus personagens não são caricaturas, são pessoas de carne e osso com o diferencial que se dedicam à política. Não julgo meus personagens. Se alguém o fizer, serão os espectadores.
V: Você assiste a seriados como House of Cards, Scandal, Veep? O que acha deles?
MM: Não sou viciado em seriados como muita gente atualmente. De vez em quando, vejo um ou outro. Dos que você citou, assisti House of Cards, que achei bem interessante e que de certa forma influenciou o meu “Planalto”.
V: Que personagens da política brasileira são, na sua opinião, dignos de filmes de ficção? E por quê?
MM: Em princípio, qualquer ser humano é digno de um filme. Tudo depende da forma como é tratado. A política brasileira está cheia de figuras que, pelo bem ou pelo mal, são dignas de um filme. O que acontece no cinema, na TV e na ficção brasileira de um modo geral, é que as obras em sua maioria têm um tom “chapa branca”, convencional, bem comportado, que foge dos aspectos polêmicos das figuras que retrata. As obras não trazem em si o embrião do debate, pelo contrário, sempre procuram não melindrar ninguém, procuram agradar a todos. Aí fica o que o escritor Oswald de Andrade chamava de “geleia geral” da cultura brasileira. “Planalto” procura um outro caminho.