Já imaginou morar num casarão do século 19 no centro do Rio de Janeiro? É possível, mas há poucas vagas. Apesar da Cidade Maravilhosa ter um cenário feito da mistura de prédios modernos e construções coloniais, a falta de conservação da parte histórica tem comprometido a beleza de alguns pontos por lá. Apenas na região central e no bairro de São Cristóvão, na Zona Norte, existem mais de 11 mil casarões abandonados.
Sabendo disso, de olho na oportunidade de negócios e pensando em divulgar uma nova modalidade de moradia no País, a arquiteta carioca Julia Abreu, especialista em revitalização, já reformou oito casarões nos últimos anos. Além da fachada ganhar retoques, os interiores foram transformados em conjuntos de apartamentos super modernos, que têm entre 40m² e 60m². Santa Tereza, Glória e Lapa estão entre os endereços dos empreendimentos.
“Há uns 10 anos, meu pai começou a comprar casarões desvalorizados no centro do Rio. Alguns estavam ocupados, abandonados, com dívidas. Eu fui estudar em Paris e quando voltei para o Brasil decidi usar estes prédios”, contou ao Virgula. (Clique nos ícones abaixo para ver o antes e depois das obras).
Menos é mais
Além de “limpar” as fachadas, os projetos se destacam por três pontos bem relevantes do urbanismo atual: primeiro, dar um uso mais consciente a espaços abandonados; segundo, é um passo pequeno, mas de grande valor para a revitalização do centro da cidade, iniciativa que, entre outras coisas, coopera para reduzir os índices de violência na região; e, terceiro, ajuda a difundir no Brasil a ideia que menos espaço é mais.
“Aqui no Brasil temos uma questão cultural com espaço. As pessoas gostam de ter sua própria máquina de lavar roupas, seu tanque. E metade do espaço de um apartamento ou casa acaba servindo para guardar tudo isso e, de fato, usamos apenas a outra metade. Uma pessoa que mora num apartamento de 40m² pode perfeitamente dividir uma máquina de lavar e não ocupar o espaço que já é enxuto com mais tantos eletrodomésticos”, explica a arquiteta. Por isso, estes prédios têm lavanderia e um armário extra no subsolo, além de áreas comuns bem restritas.
Obviamente o Brasil é um país grande e, em alguns casos, casas espaçosas realmente fazem parte da rotina. Apesar disso, já notamos que os apartamentos têm encolhido muito nos últimos anos. Então, dividir alguns espaços e bens pode ser uma saída bem mais econômica e sustentável para todo mundo.
A reforma
Estes prédios abandonados passaram por um processo chamado retrofit, que é melhorar um espaço e mudar o uso deles. “O primeiro desafio da revitalização é histórico. Um lugar de 1880 tem história. As pessoas tendem a pegar estes prédios, colocar abaixo e construir um novo. Mas reformar faz bem para a cidade”, diz Julia.
Para resolver as pendências burocráticas e finalizar o projeto são gastos, em média, oito meses. Logo em seguida, entram em cena pedreiros e mestres de obra, que levam até um ano e meio para transformar tudo em conjuntos de apartamentos.
Como as reformas são de alto padrão, os aluguéis variam entre R$2.350 e R$4.500, além de uma estimativa de R$300 de condomínio, que inclui porteiro eletrônico e limpeza das áreas comuns. Cerca de 60% dos apartamentos estão ocupados e alguns foram vendidos. A localização central e a facilidade de acesso ao transporte público são prioridades do público interessado.
Todas as unidades são lofts, ou seja, têm um espaço único e não é dividido entre sala, quarto e cozinha, por exemplo. Esta é também outra tendência da arquitetura mundial dando cada vez mais as caras por aqui. Como é preciso respeitar a estrutura original do prédio, não se pode mexer na fachada e no telhado, cada unidade tem um formato. As que dão para a rua aproveitam as sacadas e mezanino e acabaram sendo transformadas em duplex. Enquanto, as que têm vista para os fundos dos imóveis têm pé-direito mais alto e foram feitas em um único pavimento.