Parabéns! Chico Buarque completa 70 anos nesta quinta (19)
Músico tímido, letrista exímio, militante de esquerda, o homem que lutou contra a Ditadura Militar, o escritor poeta, estes são substantivos e adjetivos que indicam a persona de Chico Buarque, que completa 70 anos, nesta quinta-feira (19). Todas estas qualidades que identificamos no cantor foram consolidadas e cimentadas na década que tem sua idade hoje: 1970.
Sim, na década de 60, Chico já era um músico de prestígio, ganhando o Festival de Música Popular Brasileira de 1966, da TV Record, com a música A Banda. Seus olhos azuis encantavam a plateia e as letras de suas canções tinham uma construção estilística sofisticada. Millôr Fernandes o chamou, nessa época, de unanimidade nacional.
Apesar disto, a imagem que temos dele atualmente foi a de quando ele não era mais unanimidade, pelo menos para o Regime Militar que o perseguiu e o censurou com bastante frequência, na década de 70.
Ele mesmo conta no filme Uma Noite em 67 (2010), de Renato Terra e Ricardo Calil, que quando os tropicalistas, no final da década de 1960, chegaram com aquelas roupas loucas e coloridas, já influenciados pelos hippies, ele era a figura de smoking, que se vestia para os festivais desta forma bem mais formal, careta. Ele também era o cara do violão, enquanto jovens mais vanguardistas queriam a guitarra elétrica. Se os anos 60, ele era, digamos, fazendo um paralelo rude com os dias de hoje, um “coxinha” da MPB, nos 70, ele virou símbolo de resistência e modernidade ao fazer, em 1972, um show, hoje clássico, ao lado do tropicalista Caetano Veloso, já com o cabelo comprido e bigode e tamancos.
Foi nesta década que Chico foi perseguido de forma severa pela Ditadura e teve até que inventar uma outra persona Julinho da Adelaide, pois músicas com seu nome eram automaticamente censuradas. Julinho teve carteira de identidade, e deu entrevistas para jornais, tudo para driblar a censura.
É a década que ele se exilou na Itália com a mulher, a esposa Marieta Severo, que teve a sua peça Calabar censurada (no final dos 60, Roda Viva também tinha sido), mas teve outras duas que foram sucessos imediatos, Gota D’Água e Ópera do Malandro, se confirmando como dramaturgo também. Foi o tempo que atuou como ator no filme de Cacá Diegues, Quando o Carnaval Chegar. Foi a década de Cálice que ele cantou assim no Festival Phono 73:
Enfim, foi também nos anos 70 que ele lança seu primeiro livro, a novela Fazenda Modelo, dando o start para anos mais tarde mergulhar em suas ambições literárias. Na década de 60, ele lançou um conto chamado Ulisses junto com suas letras de músicas, mas Fazenda é mais ambicioso e esboçaria o escritor que surgiria em Estorvo ou Benjamin.
Aos 70 anos, Chico deve muito a esta década de 70, onde ele deixou de ser unanimidade, porque como dizia Nelson Rodrigues (que, aliás, implicava demais com Chico), é burra para se tornar um mito vivo da nossa música.