Parabéns! Chico Buarque completa 70 anos nesta quinta (19)


Créditos: Reprodução Facebook / Bruno Veiga

Músico tímido, letrista exímio, militante de esquerda, o homem que lutou contra a Ditadura Militar, o escritor poeta, estes são substantivos e adjetivos que indicam a persona de Chico Buarque, que completa 70 anos, nesta quinta-feira (19). Todas estas qualidades que identificamos no cantor foram consolidadas e cimentadas na década que tem sua idade hoje: 1970.

Sim, na década de 60, Chico já era um músico de prestígio, ganhando o Festival de Música Popular Brasileira de 1966, da TV Record, com a música A Banda. Seus olhos azuis encantavam a plateia e as letras de suas canções tinham uma construção estilística sofisticada. Millôr Fernandes o chamou, nessa época, de unanimidade nacional.

Apesar disto, a imagem que temos dele atualmente foi a de quando ele não era mais unanimidade, pelo menos para o Regime Militar que o perseguiu e o censurou com bastante frequência, na década de 70.

Ele mesmo conta no filme Uma Noite em 67 (2010), de Renato TerraRicardo Calil, que quando os tropicalistas, no final da década de 1960, chegaram com aquelas roupas loucas e coloridas, já influenciados pelos hippies, ele era a figura de smoking, que se vestia para os festivais desta forma bem mais formal, careta. Ele também era o cara do violão, enquanto jovens mais vanguardistas queriam a guitarra elétrica. Se os anos 60, ele era, digamos, fazendo um paralelo rude com os dias de hoje, um “coxinha” da MPB, nos 70, ele virou símbolo de resistência e modernidade ao fazer, em 1972, um show, hoje clássico, ao lado do tropicalista Caetano Veloso, já com o cabelo comprido e bigode e tamancos.

Foi nesta década que Chico foi perseguido de forma severa pela Ditadura e teve até que inventar uma outra persona Julinho da Adelaide, pois músicas com seu nome eram automaticamente censuradas. Julinho teve carteira de identidade, e deu entrevistas para jornais, tudo para driblar a censura.

É a década que ele se exilou na Itália com a mulher, a esposa Marieta Severo, que teve a sua peça Calabar censurada (no final dos 60, Roda Viva também tinha sido), mas teve outras duas que foram sucessos imediatos, Gota D’Água e Ópera do Malandro, se confirmando como dramaturgo também. Foi o tempo que atuou como ator no filme de Cacá Diegues, Quando o Carnaval Chegar. Foi a década de Cálice que ele cantou assim no Festival Phono 73:

Enfim, foi também nos anos 70 que ele lança seu primeiro livro, a novela Fazenda Modelo, dando o start para anos mais tarde mergulhar em suas ambições literárias. Na década de 60, ele lançou um conto chamado Ulisses junto com suas letras de músicas, mas Fazenda é mais ambicioso e esboçaria o escritor que surgiria em Estorvo ou Benjamin.

Aos 70 anos, Chico deve muito a esta década de 70, onde ele deixou de ser unanimidade, porque como dizia Nelson Rodrigues (que, aliás, implicava demais com Chico), é burra para se tornar um mito vivo da nossa música.


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Chico Buarque, 70 anos, e a década que consolidou a imagem do músico