A cinebiografia do astro Justin Bieber, Never Say Never, é o último elemento que faltava para consolidar a imagem do cantor como o ídolo máximo das adolescentes do planeta.
Dirigido por Jon Chu, o filme mostra a trajetória do cantor durante as preparações para o maior show de sua carreira: uma apresentação no Madison Square Garden, em Nova York, que contou com a participação especial de Usher, Miley Cyrus, Ludacris e do jovem prodígio Jaden Smith (filho de Will Smith que se apresentou com ele no Grammy).
A câmera acompanha Justin em seus exercícios vocais, nos treinos para sua grande apresentação e na exaustiva rotina da divulgação de seu trabalho.
A intenção é mostrar que ser Justin Bieber pode ser bacana, mas não é nada fácil: muitas e muitas horas de trabalho são necessárias para criar uma base gigantesca de fãs e chegar ao nível mínimo de profissionalismo para fazer um show no Madison Square Garden, uma das maiores arenas do mundo.
Além de mostrar os preparativos para o grande show do cantor, o filme conta com diversos vídeos do arquivo pessoal de Justin Bieber. Traz entrevistas com sua mãe, seus avós, amigos e empresário Scooter Braun, que descobriu o cantor após assistir a alguns de seus clipes no YouTube e decidiu bancar sua contratação do próprio bolso.
Como documentário de turnê, Never Say Never não só é eficiente como traz momentos verdadeiramente emocionantes da trajetória do cantor até o Madison Square Garden. Mostra as horas de trabalho duro, as dificuldades e as crises enfrentadas pela equipe.
Já como cinebiografia o filme não consegue trazer nenhuma novidade para os fãs. Como o diretor não traz absolutamente nenhuma entrevista com Bieber (incrível, mas é verdade), é impossível desvendar algum aspecto mais profundo de sua personalidade.
Ficamos sem saber quais livros Justin gosta de ler, quais seus filmes favoritos, sobre o que ele conversa com seus amigos, experiências marcantes de sua vida e suas opiniões sobre quaisquer assuntos além do trivial. O filme nos diz que Justin Bieber é o popstar definitivo, talentoso e merecedor de seu sucesso – mas não nos dá motivos concretos para querer conhecer mais a fundo sua personalidade.
Os únicos momentos reveladores do filme acabam sendo os poucos minutos que mostram o cantor em situações vulneráveis, cansado da turnê e fazendo manha para as câmeras – afinal, Justin é apenas um adolescente, ainda aprendendo as manhas da vida adulta e da indústria do show business.
Um instante particularmente revelador é a conversa que Justin tem com sua treinadora vocal, que o repreende por gritar e falar muito durante seus períodos de folga, retornando para o estúdio completamente rouco.
Depois de questionar se não pode comer algo fora do normal, um sanduíche que seja, mesmo que frituras não sejam boas para sua garganta, ela pergunta se Justin quer deixar tudo para trás e voltar para onde veio – uma cidadezinha do Canadá longe da fama e do estrelato de Nova York. Sem graça e aparentemente alheio às câmeras, Justin responde que não, e abaixa a cabeça diante da bronca.
“Ele renunciou a uma vida normal quando aceitou ser o que é hoje. Essa vida de privações e de muito trabalho é a normalidade dele hoje em dia – e ele precisa aceitar isso”, diz ela em entrevista posterior ao diretor.
São nesses momentos quase crueis que é possível vislumbrar um outro lado de Justin, o do adolescente sem rumo que está aprendendo aos poucos a lidar com a máquina da fama e a indústria das celebridades instantâneas.
CÓPIAS DUBLADAS
Um problema grave que a exibição do filme enfrenta no Brasil é que só foram disponibilizadas cópias dubladas.
Embora esta estratégia de divulgação tenha sido adotada para facilitar a compreensão dos fãs mais jovens do cantor, todos vão ao cinema esperando ouvir a voz de Justin, que fica escondida por trás do off do dublador. O mesmo vale para as falas de Usher, Miley Cyrus, Jaden Smith e outros astros.
Uma pena, já que muitos fãs irão ao filme querendo ouvir as vozes originais de seus ídolos.
