Ter a fala interrompida, os argumentos relevados e ideias apropriadas, sem o devido crédito, são situações quase que cotidianas na vida das mulheres.
Quantas vezes você não ponderou o próprio tom de voz, por exemplo, a fim de evitar a “impressão errada” entre familiares, colegas e conhecidos do sexo masculino?
Não se trata apenas de uma impressão. No dia-a-dia, mulheres são constantemente atravessadas em suas falas, como se não tivessem o direito de argumentar, expor ideias e, pior, discordar.
Essa interrupção é chamada de “manterrupting”, junção de “man” (homem) e “interrupting” (interrupção). Além dela, existem outras palavrinhas em inglês que conseguem traduzir comportamentos de caráter sexista aproveitados para silenciar, subtrair e deslegitimar a argumentação das mulheres.
A gente explica alguns logo a seguir:
GASLIGHTING
Exagero, loucura, alucinação… Quantas vezes, numa discussão, o posicionamento feminino é simplificado a esse ponto? Gaslighting não passa de uma prática manipulativa que tenta desmerecer a mulher, de modo que ela questione a própria sanidade, memória, percecpção ou coerência. Trata-se de uma violência emocional muito comum em relacionamentos abusivos, como no caso do filme “Gaslight”, de 1944, que originou o termo. Na trama, o personagem Gregory Anton tenta enlouquecer a esposa Paula, brincando com as luzes de casa para que a própria perca a percepção da realidade. As expressões mais comuns, nesse caso, são: “Você está louca”, “para de surtar”, “que exagero”, “como você é dramática” e por aí vai.
MANTERRUPTING
Como a gente disse ali em cima, manterrupting é a interrupção repentina e desnecessária da fala de uma mulher. Uma pesquisa da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, mostrou que senadores do sexo masculino são tidos como mais competentes devido à habilidade de discursar com entusiasmo para os eleitores. O mesmo não vale para as senadoras, porém; enquanto os homens são ovacionados pelos discursos, elas são são tidas como menos competentes ou agressivas demais na oratória. Para dar uma “segurada” na onda das mulheres, portanto, é necessário interrompê-las diversas vezes, embora essa seja uma atitude deselegante e condenada entre os homens.
MANSPLAINING
Além da interrupção, existe a tentativa de explicar o óbvio a uma mulher, mesmo que ela esteja certa ou coerente em sua argumentação. Novamente, é como se os homens precisassem validar o que a colega ou parceira está dizendo, dando a última palavra, ou apenas desmerecendo o que ela tem a dizer. Não faz sentido, mas é uma prática atrelada à interrupção masculina. “Não, querida, você não está entendendo” é um exemplo bem recorrente nesses momentos. Soraya L. Chemaly, especialista em teorias de gênero, feminismo e cultura afirma que a resposta das mulheres, nesses casos, deve reforçar a obviedade da argumentação masculina, como quem diz: “pois é, exatamente o que eu acabei de dizer”.
BROPRIATING
Já que as mulheres são interrompidas e corrigidas com mais frequência, apropriar-se de suas ideias é tarefa simples e corriqueira. É isso que significa a junção de “bro” (mano, cara) e “apropriating” (apropriação): quando um homem se aproveita das ideias ou argumentos de uma mulher sem lhe dar os devidos créditos, como se fosse o autor daquele pensamento.
Homenagens erradas do Dia das Mulheres
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