Gabi Oliveira comanda o canal DePretas há quase 1 ano. Nesse tempo, são mais de 20 mil inscritos que interagem bastante a cada vídeo seu, sempre com discussões que giram em torno do universo da mulher negra.
Com 24 anos e formada em relações públicas, Gabi tem um canal que, inicialmente, começou a partir de um trabalho de conclusão de curso. Ali, descobriu uma série de pessoas que já estavam um tanto angustiadas por não serem representadas por ninguém no universo de youtubers que acaba de se destacar. Sua história é contada por ela mesmo nas linhas abaixo.
O começo
Tudo começou quando eu estava fazendo um TCC, que eu fiz relações públicas. Daí resolvi fazer uma pesquisa, pois estava realizando processo de transição capilar, e entrei nesse processo no meio da faculdade. E quando iniciei isso entrei em alguns grupos do Facebook pra ouvir casos pessoais. E quando entrei nesses grupos percebi que eles eram gigantes e com interações muito específicas. Aí resolvi que faria meu TCC sobre o papel da internet na valorização da mulher negra. Me apaixonei pelo trabalho e vi o potencial que a internet tinha pra gente discutir questões raciais, que não se resumem só ao cabelo. Um mês depois eu entreguei a monografia e pensei em fazer um canal. Porque o que eu percebi é que mesmo as meninas que falavam de cabelo cacheado eram ou brancas, ou negras de pele muito clara. Era muito pequena a representatividade de cabelo crespo. Aí pensei em fazer, mas não resumir somente em estética, porque estética é um gancho que serve para discutir outras coisas. Então resolvi que iria falar sobre outras questões que fortalecem o discurso da mulher negra e que eu só descobri depois que entrei na universidade. A ideia sempre foi trazer esses assuntos de uma maneira mais fácil, às vezes com bom humor, porque a gente sabe que a maioria da população negra sequer consegue entrar na universidade, então é um pouco injusto deixar essas discussões só no ambiente acadêmico.
Popularidade
A minha popularidade, se comparada com youtubers brancas, é baixa. Se comparadas com negras, não. Eu tenho 20 mil inscritos e essa população, para canais negros, é um crescimento grande. E tem gente que está aí há uns três anos e não consegue crescer. Aqui no Brasil temos uma coisa muito complexa, porque quando são meninas brancas falando de maquiagem, a gente acha que é para o público geral. Ou seja, as adolescentes negras assistem meninas brancas fazendo maquiagem, mas as meninas brancas não assistem as negras, porque aquilo se torna algo específico para pele negra e aí complica tudo né (risos).
Responsabilidade do Youtube na baixa popularidade dos canais negros
Eles até dão um incentivo muito grande pra que a gente melhore o canal, com sugestões de assuntos e tal, mas treinamento não traz equipamento, sabe? A gente fica no campo do diálogo e não consegue transformar aquilo em prática. E realmente temos uma dificuldade em fechar qualquer tipo de parceria, é bem difícil. No meu canal mesmo eu fechei uma parceria. Outra questão é que temos dificuldade em encontrar marcas que querem patrocinar os nossos assuntos. Porque feminismo hoje tem um espaço muito maior, mas quando você diz que também fala sobre racismo… isso dificulta um pouco para encontrar marcas que queiram vincular sua imagem. Fora que nós não somos padrão. Até mesmo as maiores youtubers, com 100 mil inscritos, não fecham coisas que meninas brancas com o mesmo número conseguem.
Racismo
Já sofri, mas as pessoas estão se aperfeiçoando. São poucos que falam diretamente. Teve um que falou diretamente, mas a pessoa não fala mais “macaca”. Eles tentam sempre te desqualificar, porque você é mulher e, além disso, mulher negra, e tá querendo dar ‘pitaco’ no que a gente acha que você não deveria. É sempre nesse teor de ‘quem é você pra falar disso?’. Mas já recebi [preconceitos] raciais assim mais diretos, mas são poucos.
Artistas negros determinantes para música
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